Romualdo Tavares era um homem maduro, havia perdido a esposa há poucos meses e ainda não se recuperara dessa perda. Vivia sisudo, calado.
Pra mudar de ares resolveu se mudar de cidade. Escolheu morar em Bridgeport por ser uma cidade grande com mais opções de trabalho e também por imaginar que mudando radicalmente de ares pensaria menos na falecida esposa.

Sua profissão era Detetive Particular e deveria conseguir muitos serviços numa cidade grande e agitada como Bridgeport. Agora era resolver se alugaria uma casa ou um pequeno apartamento. De qualquer forma não poderia ser nada caro, pois suas finanças não eram muita coisa. Teria que conseguir achar rápido algo dentro das suas condições, pois queria se mudar o mais rápido possível. Procurou no jornal por de alugueis e venda de imóveis. Para sua surpresa havia muitas ofertas bem em conta. Ele não esperava por isso. Imaginava que tudo estaria muito caro, sempre soube que em Bridgeport os alugueis eram bem caros.
Humm... isso era meio suspeito, mas vinha bem a calhar com suas finanças.
Enfim, reservou uma pequena casa mobiliada um pouco distante do centro da cidade, pois era ainda mais barata e poderia levar seu cachorro que era grande e não ficaria muito a vontade num apartamento pequeno.
Fez as malas, pegou a urna de sua esposa, sim ele não iria sem ela. Não precisaria chamar um caminhão de mudanças, a casa alugada tinha mobília e a sua estava bem gasta. O pouco que tinha cabia em uma mala. Deu uma última olhada nas paredes, móveis velhos, tapete puído. Tudo tão velho, mas tão impregnado de lembranças. Deu adeus a sua antiga vida e trancou a porta atrás de si.
Depois de muitas horas de viagem ele começou a avistar as luzes da cidade. A medida que as luzes dos prédios e das ruas iam se tornando mais visíveis as estrelas no ceú iam se tornando menos brilhantes aos seus olhos. Era um dos preços a se pagar para se viver em uma cidade grande.
Nossa! A vista da cidade estava realmente se tornando bela. Que cidade linda, a vista a noite era encantadora. Um bom momento para vê-la pela primeira vez, com todas as suas luzes acesas.
Mas aí o taxi fez uma curva e as luzes ficaram para trás. A casa que alugara ficava afastada e não havia prédios altos ou grandes centros comercias nas redondezas. Mas ainda assim poderia ver parte da cidade ao longe.
Enfim o carro parou em frente a uma casinha com quintal sem plantas nem cerca, apenas uma ervas daninhas "enfeitavam" o gramado. Ao abrir a porta o cachorro pulou e foi correndo cavar e remexer na terra. Pelo visto ele já estava se adaptando e fazendo o reconhecimento do solo. Pelo menos ele estava feliz e bem a vontade.
Havia um homem em frente a porta. Era o corretor com as chaves, uma cópia do contrato e um cartão. Entregou tudo a Romualdo e foi embora bem rápido com cara de quem queria se ver livre dali o mais rápido possível.
Bem, agora era entrar e conhecer o novo lar.
Que lugar tranquilo, não ouvia som algum vindo da vizinhança. As casas eram um pouco afastadas umas das outras. E a sua ficava bem afastada, quase na beira do rio. Verdade que a maioria eram casas grandes, bonitas. Deveria ter vizinhos ricos, mesmo naquela parte da cidade. A noite estava tranquila, isso era bom sinal, pensava ele. Poderia dormir bem aquela noite e descansar da viagem e todo estresse da mudança.

Mas no meio da noite um barulho estranho acordou seu cachorro. Oto era o nome dele. Ele levantou as orelhas e logo começou a uivar. Romualdo acordou, olhou o relógio e não acreditou que sua noite tão tranquila havia sido interrompida.Olhou pela janela, não viu nada além da luz do luar. Saiu e foi ver o que estava agitando Oto.
O bicho estava mesmo agitado, latia, uivava e andava de um lado para o outro como se estivesse a ver alguma coisa.
 
Romualdo colocou um pouco de ração no seu prato e o chamou. Oto hesitou, olhou para os lados e por fim acalmou-se e foi comer. Depois de comer e receber um carinho ele enfim deitou-se e foi dormir.
Romualdo resolveu que compraria ou faria no dia seguinte uma casinha para Oto. O céu estava nublado e poderia chover por aqueles dias.

No dia seguinte depois do susto, Romualdo levantou e foi tomar um café puro como era de seu costume.
E novamente o cachorro começou a latir. Mas ao sair Romualdo viu que não era nada demais, apenas um garoto oferecendo o jornal da cidade. Disse que poderia entregar todos os dias pela manhã e receberia o dinheiro no final do mês, como fazia para o homem que morara ali até uma semana atrás. Romualdo aceitou. Precisava mesmo ler o jornal.
Notícias de esporte, cinema, boates. Havia muita agitação mesmo na cidade. As noites eram quentes, com muitas baladas. Bem, mas vamos a parte que interessa: os anúncios de emprego e serviços.
Humm, maravilha! Esta cidade era o paraíso para um detetive particular. Muitos casos a serem resolvidos. Mas um chamou a atenção de Romualdo mais que os outros.
Uma mulher precisava desesperadamente encontrar seu filho, um menino de 10 anos que havia desaparecido.
Como não aceitar um trabalho desse?
Rapidamente ele pegou o celular e ligou para o número que estava no anúncio.
Tinha que impressionar a mulher, afinal era novo na cidade e seu trabalho não era conhecido e deveria haver outros detetives já conhecidos na cidade. Então resolver o caso no menor tempo possível faria seu nome ficar em evidência e outros trabalhos viriam com mais facilidade.
Estava se preparando para o novo caso quando notou algumas baratas na cozinha. E havia mais por toda parte. Deviam estar só esperando para se apresentar ao novo morador. Isso é terrível, a casa estava infestada. Teria que chamar um dedetizador. Lá ia gastar dinheiro mesmo antes de ganhar. Mas que furada. Seria por isso que a casa estava tão barata? Por causa das baratas? Ah, não tinha a menor graça.
 
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